São Gregório VII foi, sem dúvida, o Papa por excelência da História da Igreja. Lutador indomável contra o cisma do Oriente, as heresias, o Império revoltado e um antipapa usurpador, foi também o idealizador das Cruzadas que libertaram o Santo Sepulcro de Nosso Senhor.Entretanto, um tal gigante na defesa da Igreja não descuidava dos humildes. Ele sabia descobrir, no combate humilde e corajoso, o ferido que sofria pela causa da Igreja, e o cercava de uma admiração e de uma ternura que não podia dar aos chefes, cuja fidelidade era devida ao preço da glória.
Leia-se esta carta a um pobre padre milanês chamado Liprand, que os simoníacos haviam mutilado de maneira bárbara:
“Se nós veneramos a memória dos santos que foram mortos depois que seus membros foram cortados pelo ferro, se celebramos os sofrimentos daqueles que nem o gládio nem os sofrimentos puderam separar da fé em Cristo, tu és mais digno de louvores ainda, por ter merecido uma graça que, se a ela se juntar a perseverança, te dá uma inteira semelhança com os santos.
“A integridade de teu corpo não existe mais; mas o homem interior, que se renova dia a dia, desenvolveu-se em ti com grandeza. Exteriormente as mutilações desonram teu rosto, mas a imagem de Deus, que é o brilho da Justiça, fez-se em ti mais graciosa por tua ferida, mais atraente pela deformação que se imprimiu a teus braços.
“A Igreja diz de si mesma no Cântico: “Eu sou negra, ó filhas de Jerusalém”. Assim, portanto, tua beleza interior não diminuiu com essas cruéis mutilações. Teu caráter sacerdotal, que é santo, e que é preciso reconhecer muito mais na integridade das virtudes do que na dos membros, não sofreu nenhuma desvantagem. Antigamente o Imperador Constantino foi visto beijar respeitosamente, no rosto de um bispo, a cicatriz de um olho que lhe fora arrancado pela sua fidelidade ao nome de Cristo.
“O exemplo dos Padres e as antigas escrituras nos recomendam manter os mártires no exercício do ministério sagrado, mesmo depois das mutilações que eles sofreram em seus membros. Tu, portanto, mártir de Cristo, sê pleno de segurança no Senhor. Olha a ti mesmo como tendo dado um passo a mais em teu sacerdócio. Ele te foi conferido com os óleos santos, e hoje, ei-lo selado com teu próprio sangue. Se muito te reduziu, muito te é necessário pregar o que é o bem, e semear esta palavra que produziu cem por um.
“Nós sabemos que os inimigos da Santa Igreja são teus inimigos e teus perseguidores. Não os temas, e nem tremas diante deles, porque nós guardamos com amor, sobre nossa tutela e da Sé Apostólica, tua pessoa e tudo o que se refere a ti. E se for necessário recorreres a nós, aceitamos desde já teu apelo, dispostos a te receber com alegria e grande honra, logo que venhas até nós e até esta Santa Sé”.(D. Guéranger, “L’Année Liturgique“- Paris, 1897, vol. 3, p. 503)
1.08.2012
6.02.2009
Singela homenagem de amizade
pela primeira vez neste blog dedico uma postagem ( S. Paulo )
é com uma imensa alegria que dedico este pouco da vida de S. Paulo (sua conversão) ao meu amigo Fernando Duarte, que vive neste momento a alegria de coração cheio do amor de Jesus tão cheio que transborda e quem está ao seu redor nota isso, todo ele é amor, todo ele é solidariedade todo ele é alegria , depois de tantas coisas menos boas que lhe tem acontecido eis que ele encontra mais forças para tudo encarar e ultrapassar, que essa serenidade e amor a Jesus seja tanto que quanto mais ele der aos outros mais tenha para ele.
Nesta homenagem singela amigo Duarte.
OBRIGADO POR SER MEU AMIGO
S. Paulo e sua Conversão
PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS
O acontecimento da morte do Diácono Estevão, desencadeou uma sistemática perseguição de Saulo contra a Igreja de Jerusalém. Por sua vontade, fez um pacto com as autoridades do Sinédrio objetivando destruir a “seita” de JESUS. Todos que seguiam a doutrina do SENHOR, homens, mulheres, jovens e velhos, eram perseguidos e presos, encarcerados e em muitos casos, eram maltratados, flagelados e mortos, não escapava ninguém. Os cristãos, com exceção dos Apóstolos, fugiram apavorados como podiam e se dispersaram pelas regiões da Judéia e da Samaria.
Por outro lado, como conseqüência do abominável episódio da morte de Estevão, que foi lapidado pelos próprios colegas de aula, as autoridades judaicas e romanas reagiram contra aquele procedimento cruel e fecharam a Escola de Gamaliel, considerando-a excessivamente tolerante.
Saulo contudo, não esmorecia em seu ímpeto, devastava a Igreja penetrando nas casas dos cristãos e arrancando os moradores à força, metia todos eles na prisão. Aquelas casas que não atendessem ao chamado e não abrissem a porta de entrada, ele mandava arrebenta-la a machado. E no seu zelo farisaico de exterminar os fieis de CRISTO onde os encontrasse, cheio de ira, respirando ameaças e morticínios contra os discípulos do SENHOR, foi procurar o Sumo Sacerdote e lhe pediu cartas de apresentação para as sinagogas de Damasco. Não satisfeito com sua atuação em Jerusalém, quis amplia-la, a fim de trazer agrilhoados para a Judéia os cristãos que estivessem na Síria, homens e mulheres. Saulo contava com a conivência dos Sacerdotes Sírios, a fim de que eles lhe indicasse os nomes das famílias dos cristãos de Damasco, para que os seus soldados pudessem prender todos eles e “limpar a cidade”.
Assim, repleto de propósitos funestos, iniciou a viagem com uma escolta de quatro cavaleiros.
A CAMINHO DE DAMASCO
A cavalo, no meio de seus soldados, mostrava-se irritado por causa do ardentíssimo sol de verão, à medida que avançava pelas terras calcinadas da Itureia, onde já não chovia há seis meses. No trajeto surgiam pequenos vales com uma mirrada vegetação verde que se salvou e não foi devorada pela última geada de inverno, mas agora estava sendo castigada pelo sol do estio. Cautelosamente em fila, os cavaleiros seguiam defendendo-se dos abismos. Galgavam as encostas para alcançarem as gargantas dos vales e desciam pelo caminho mais suave, apreciando o panorama de cada região. Depois de muito cavalgar tiveram alívio, quando atravessando uma garganta estreita, avistaram a extensa planície da Síria, com as produtivas terras damasquinas, oásis floridos e verdes, campos formosos e férteis, regados pelos rios Abana e Farfar. Enquanto apreciavam e conversavam sobre a beleza do solo sírio, eis que de súbito, uma fulgurante luz vinda do céu incidiu violentamente sobre Saulo, assustando o animal e arremessando-o ao solo, ao mesmo tempo em que se ouviu uma voz:
- “Saulo, Saulo, porque me persegues?” (At 9,4)
- “Quem es tu SENHOR?” (respondeu Saulo, atônito e sem ação)
- “EU Sou JESUS, a quem persegues. Levanta-te, entra na cidade, e ser-te-á dito o que deves fazer.” (At 9,5-6)
Com estas palavras, desapareceu a luz brilhante que incidia sobre Saulo. Os soldados, seus companheiros de viagem, perplexos e mudos de espanto, acompanhavam os acontecimentos. Observaram o esplendor luminoso e ouviram a voz que conversava com o perseguidor, mas não viram quem falava. Ajudaram Saulo a se levantar do chão e embora ele tivesse os olhos abertos, não enxergava nada. Foi conduzido pela mão até Damasco. Durante três dias ficou sem ver e pela sua própria vontade, não quis se alimentar. Envolto num turbilhão de pensamentos, repassava em sua mente os últimos acontecimentos, desde a morte de Estevão, a perseguição que desencadeou aos cristãos, sua viagem a Damasco e aquela impressionante ocorrência. Na verdade, todos aqueles fatos atuaram decisivamente sobre a sua vida.
CONVERSÃO DE SAULO
Vivia em Damasco um discípulo de JESUS chamado Ananias. O SENHOR apareceu-lhe em visão e disse:
- “Ananias, vai à rua Direita e procura, na casa de Judas, um homem chamado Saulo, de Tarso. Veja ele está orando”. (Ananias teve uma visão). (At 9,11)
E também, naquele mesmo momento, o SENHOR proporcionou a Saulo uma visão: ele viu um homem chamado Ananias que entrava onde estava e lhe impunha as mãos, para que ele recuperasse a vista.
Ananias respondeu a JESUS:
- “SENHOR, ouvi de muitos, a respeito deste homem, quanto mal ele fez a teus santos em Jerusalém. E está aqui com plena autoridade dos sumos-sacerdotes para aprisionar os que invocam o teu nome.” (At 9,13-14)
Mas o SENHOR ordenou:
- “Vai, porque este homem é para mim um vaso escolhido para levar o meu Nome diante dos gentios, dos reis, e dos filhos de Israel. EU Mesmo lhe mostrarei o quanto lhe será preciso sofrer por causa do Meu Nome.” (At 9,15-16)
Ananias partiu obedientemente para cumprir a ordem do SENHOR. Entrando na casa, imediatamente foi ao encontro de Saulo. Aproximou-se e lhe impôs as mãos, dizendo:
- “Saulo, meu irmão, quem me envia é o SENHOR, esse JESUS que te apareceu no caminho por onde vinha, a fim de recuperar a vista e ficar repleto do ESPÍRITO SANTO.”(At 9,17)
Logo caíram dos olhos de Saulo uma espécie de escama e ele recobrou a visão. Então compreendeu que aquela era uma manifestação clara do perdão Divino. Feliz por encontrar o SENHOR, pediu para ser batizado a fim de tornar-se cristão. No mesmo dia, Ananias levou-o ao rio Bareda onde batizavam os fieis e ele foi batizado por um sacerdote. Agora, o Saulo pagão ficou no passado e nasceu das águas do rio, através do Sacramento do Batismo, um homem novo, outro guerreiro fiel, forte e destemido a serviço de DEUS. Terminada a missão de seu ministério, Ananias despediu-se e partiu.
Sozinho com seus pensamentos, Saulo que era de muitos estudos, compreendeu o chamado Divino e segundo a Vontade do SENHOR, teria uma missão especial de evangelizar os pagãos e converte-los ao cristianismo, seria de fato o Apóstolo dos gentios. A partir desta época, no ano 36 de nossa era, com 26 anos de idade, consagrou definitivamente a sua vida com todas as suas forças, ao serviço e ao amor de CRISTO.
Mas naquele momento precisava organizar a sua mente, arrumar o seu raciocínio e também se ocultar em algum lugar seguro, onde não fosse encontrado, porque os judeus queriam mata-lo. Em Damasco, o etnarca do rei Aretas, havia colocado vigias pela cidade para descobrir o seu paradeiro. Os cristãos observando a transformação ocorrida em Saulo e lembrando os depoimentos de Ananias, que tinha recebido do SENHOR a ordem de restituir-lhe à visão, decidiram acolher a conversão do "antigo perseguidor" e se uniram para ajuda-lo a fugir dos judeus. No entardecer daquele dia, acompanhado de alguns cristãos e vestindo um manto comprido como disfarce, levando um amarrado de mercadorias em sua cabeça, ao modo dos negociantes, saíram pelo portão principal da cidade sem serem observados e se dispersaram. Os outros voltaram para Damasco enquanto ele seguiu em direção ao sul, ao reino dos nababeus, na Arábia, onde permaneceu aproximadamente dois anos e alguns meses no deserto. (Gal 1,17)
Inspirado pelo ESPÍRITO SANTO, no momento oportuno voltou a Damasco para pregar o Evangelho de JESUS.(At 9,20)
5.04.2009
S. Nuno de Santa Maria
O processo de elevação de Nun’Álvares Pereira aos altares encontrou inúmeras dificuldades no trânsito do tempo. Nascido em 1360, na adolescência sonhava ser um novo “Galaaz”, influenciado pelas novelas de cavalaria, que muito gostava de ler. A crise dinástica de 1383-1385 dá-lhe oportunidade de provar que ser Galaaz era, muito mais do que sonho, uma realidade. Sê-lo-ia, antes de mais, em nome da Pátria, na qualidade de Condestável do Reino, em defesa da independência nacional e da unidade católica da Igreja. Naquele tempo, Castela aceitara obedecer ao anti-Papa de Avinhão (Clemente VII), pelo que a entrega da coroa portuguesa a D. João de Castela poria o Reino em situação de cisma e infidelidade a Roma. O triunvirato (D. João Mestre de Aviz, o Condestável Álvares Pereira, o jurista Dr. João das Regras) lutava em duas frentes: a independência nacional e a lealdade à Igreja Universal. Não fora a luta por esta lealdade, e Roma teria certa dificuldade em reconhecer o primado da soberania portuguesa face a Castela.
O título de “Nação Fidelíssima” foi ganho, sem dúvida, nestas difíceis circunstâncias. O sentido de catolicidade eclesial motivou a Casa de Aviz para a Reconquista cristã em África. Cumpre lembrar que o Norte de África, então sob o império muçulmano, fora em parte cristão, e que o domínio árabe abafara as comunidades cristãs, algumas delas do tempo de Santo Agostinho; e que, por conseguinte, a Reconquista abrangia, para além do Algarve, os Algarves, a África do Norte. Nun’Álvares esteve em Ceuta, participando da gesta inicial da Expansão e da Missionação.
Tendo fundado o Convento de Nª Sª do Vencimento em Lisboa, no morro acima do Vale Verde (Rossio) enfrentando o Castelo de S. Jorge, Convento esse que doaria com inúmeros dos seus bens temporais à Ordem dos Irmãos de Nossa Senhora do Carmo, que desde logo povoou a nova casa com frades provindos de Moura, ele mesmo, Nun’Álvares, iniciou a segunda fase da sua vida de Galaaz, agora Galaaz de Deus, ao professar na Ordem que escolhera e na casa que erguera, em 1423. Oito anos depois (1431) faleceria em odor de santidade, a fama de santo ecoando por todo o Reino.
A Casa de Aviz, ainda no tempo de D. Duarte, fez tudo quanto esteve ao seu alcance para obter desde logo uma elevação canónica, mas sem efeito. Novas tentativas foram feitas em 1641, em 1674, em 1894, mas só em 1918, na sequência de sólida campanha iniciada pela Associação Nun’Álvares, apoiada pelos Bispos, pelas Ordens Terceiras, e propagandeada pela Ala do Santo Condestável, a Santa Sé deu um primeiro passo, reconhecendo a muito antiga fama de santidade, e autorizando um culto público, se bem que restringido a Portugal, cujo Directório Litúrgico situa a memória festiva em 6 de Novembro.
Conforme se depreende do título, esta Antologia contempla Nuno de Santa Maria in specie. Não cuidamos de uma escolha de textos relativos à integral personalidade de Nuno – o militar, o patriota, o guerreiro, o monge, o santo – que são facetas inerentes aos nomes em que o identificamos: Conde de Ourém, Nuno Álvares Pereira, Condestável…, cuidamos sobretudo de Frei Nuno de Santa Maria, da sua espiritualidade, dos carismas e das virtudes (cardeais e teologais) segundo os testemunhos, ou de quem o conheceu, ou de quem o estudou. A Apresentação é muito breve. O que nela tem relevo é a Cronologia Fundamental, pois, com ela, evitamos escrever um esboço biográfico, pois há muitos, e deveras excelentes, e facultamos ao leitor uma visão sequencial e sinóptica das datas mais apelativas – por um lado, as da sua vida, e, por outro lado, as subsequentes e consequentes à morte e projecção na história da Igreja e da Pátria, chamando a conclave as diversas ocasiões em que se pugnou pela beatificação (que muito demorou) e se tem pugnado pela justa canonização (na expectativa da qual vivemos).
A completar, uma Selecção Bibliográfica.
A Bibliografia acerca de Nun’Álvares é vastíssima e contempla todas as principais facetas: o Condestável, o Cidadão, o Religioso, tanto do ponto de vista da personalidade, como da interacção na sociedade portuguesa da sua época, como da predominância do seu exemplo nos estudos históricos e culturais relativos à Pátria, à Ordem Carmelita e à Igreja. O primeiro grande documento de âmbito geral personalizado é a Crónica do Condestabre, de Autor anónimo do século XV, mas a sua biografia e a sua gesta são tópico fundamental na Crónica de D. João I, de Fernão Lopes. A partir da Crónica do Condestabre, (que Jaime Cortesão adaptou para servir de leitura a jovens, pondo-a em português moderno), Nun’Álvares suscitou imensidade de títulos, entre os quais a biografia segundo Oliveira Martins, tantas vezes citada, e reeditada, a Vida de Nun’Álvares (1891). Existem, aliás, muitas outras biografias, entre elas as modernas devidas a D. António dos Reis Rodrigues e a Henrique Barrilaro Ruas. O culto a Nuno de Santa Maria acha-se documentado em inúmeras instituições que o tomaram para seu padroeiro (Arma de Infantaria), ou titular, Colégios, Escolas, Institutos, Movimentos laicais (Ala do Santo Condestável,
Fraternidade Nun’Álvares, Cruzada Nun’Álvares…) e para designações toponímicas em Praças, Ruas, Capelas e Igrejas Paroquiais, etc.
Motivou e motiva poetas (Junqueiro, Corrêa d’Oliveira, Afonso Lopes Vieira, Augusto Casimiro, Fernando Pessoa, Couto Viana, Moreira das Neves…) desde Luís de Camões; e também músicos, que produziram variedade de cânticos e de hinos (Manuel Nunes Formigão, Venceslau Pinto, Inácio Aldossoro, M. Pacheco, Luiz Gonzaga Mariz, José Ferreira…) desde as remotas chacóinas ou músicas com que os habitantes da zona saloia de Lisboa abrilhantavam as suas peregrinações ao túmulo do Conde Santo na Igreja do Convento do Carmo.
Do ponto de vista bibliográfico estimamos que o tema se inclua entre aqueles que maior volume de títulos tem produzido – Santa Isabel, Santo António, S. João de Deus, com a diferença em excesso porque, em vista da história política,
Nuno Álvares é muito mais referenciado, tanto directa como indirectamente. Por isso, a Selecção Bibliográfica apresentada é muito restrita, considerando apenas títulos inevitáveis porque atentos à espiritualidade. O leitor desejoso de saber mais achará complemento nos Inventários que na Selecção indicamos, sobretudo o devido ao Padre Bernardo Xavier Coutinho (fal. 1981) e também ao legado por outros investigadores, entre eles Fr. Balbino Velasco, O. Carm., na excelente História da Ordem do Carmo em Portugal (2001).
A Antologia está organizada em três módulos:
Memórias e Estudos inclui uma escolha muito exigente das fontes coevas e das exegeses modernas. Este módulo destina-se principalmente a salientar as formas como Nuno Álvares foi visto pelos do seu tempo, e como tem sido visto pelos exegetas modernos, em termos de espiritualidade. O ensaio de Domingos Maurício vem no final dos autores medievais e antes de Pereira de Sant’Anna, que é do século XVIII. Razão: o cerne do ensaio de Domingos Maurício revela textos do século XV, da época da primeira tentativa de canonização. Acerca dos demais textos escolhidos, dispensamo-nos de outros comentários, salvo duas notas, a saber: omitimos qualquer trecho de Oliveira Martins, apenas porque quanto ele escreve acerca do santo está nas fontes medievais e setecentistas, e porque, conforme já anotara o Padre Valério Cordeiro, na muito sugestiva obra de Oliveira Martins falta uma nítida embebência no espírito carmelita, o qual se acha prioritariamente contemplado nos demais trechos. Todos estes demais trechos são da pena de exegetas que ao Beato Nuno dedicaram ascéticas e litúrgicas vigílias,
oferecendo, a nosso ver, excelentes entendimentos do espírito condestabriano.
O segundo módulo, Hinos e Poemas, foi ainda de mais difícil selecção, dada a abundância de escritos e de criações poéticas e dramáticas. Por isso, limitámos a escolha a poucos textos, privilegiando as letras das chacóinas medievais e os hinos litúrgicos ou para-litúrgicos, entre eles o que o Padre Moreira das Neves compôs para a Peregrinação Nacional das Relíquias (1960) e o de Manuel Nunes Formigão, que tanto ensaiou a ligação do culto de Nuno ao culto de Fátima, sob a díade Fé e Pátria. Com prejuízo de outros – Junqueiro incluído – seria impensável omitir Fernando Pessoa.
O terceiro e último módulo contém Documentação Canónica. É hoje em dia possível reunir em volumoso Cartulário os documentos canónicos aduzidos no decurso dos tempos em vista da beatificação/canonização. É-nos materialmente impossível propôr mais textos do que os inclusos, mediante os quais, não obstante, o leitor obterá um aperitivo das complexidades e dificuldades
dos actos conclusivos, mormente após o Decreto “Clementissimus Deus” da beatificação. Foi-nos entretanto possível revelar a ainda inédita Súplica dirigida ao Papa Pio XII pelo Cardeal Cerejeira, e o discurso do Cardeal Cruz Policarpo no encerramento do Processo diocesano de Canonização, ora em curso em Roma, através da Postulação Geral dos Carmelitas. Para melhor inteligência da complexidade processual, o leitor poderá obter informes adicionais na leitura da Cronologia Fundamental.
A título de curiosidade incluímos uma Selecção Iconográfica. A iconografia condestrabriana – pagelas, retratos, pinturas, imagens, esculturas, medalhística, azulejaria é um mundo infindável, em obras assinadas pelos mais conceituados artistas.
Ainda quanto à escolha, decidimos, em consciência, levar também em linha de conta a vantagem de chamar a concílio escritos públicos mas que são hoje em dia quase inacessíveis excepto em Bibliotecas públicas, enquanto a Vida, segundo Oliveira Martins, continua a ser encontrada no mercado em diversas edições.
No que à ortografia inere, optámos por manter a original dos textos, mesmo dos antigos, ou inéditos, conservando-lhes o sabor ainda medievalizante, ou a pureza dos porventura inéditos. Tanto quanto possível mantivemos na íntegra cada um dos textos escolhidos, salvo num que noutro caso. Indicamos de cada um a respectiva fonte.
É nosso dever o agradecimento às pessoas que nos autorizaram a inclusão de alguns textos dos autores contemporâneos. Ao Padre A. Vaz Pinto (Brotéria), e ao Padre J. Vaz de Carvalho, felizmente ainda vivo. Às Senhoras viúvas de Henrique Barrilaro Ruas e de Lima de Freitas. D. António dos Reis Rodrigues que dera oportuna autorização veio a falecer (3.2.2009) mas o seu gesto foi-nos aceite pelo seu editor, Manuel Vieira da Cruz. Licença pessoal foi-nos dada ainda pelo antigo carmelita P. Kallenberg, mas quanto ao historiador Manuel Maria Wermers, também holandês, não lográmos estabelecer contacto com a Senhora sua viúva, D. Maria Luísa Wermers. Fernando Guedes, antigo director da revista “Tempo Presente”, não viu inconveniente na transcrição do artigo de D. Francisco Rendeiro. Do Padre Formigão recebemos a gentileza das Servas Reparadoras de Nª Sª das Dores de Fátima. No que se refere aos ilustres autores de belíssimos textos que seria grave não considerar (Álvaro da Costa Pimpão e Monsenhor Mendeiros, falecido em 2000, e que nos deu o favor da sua estima) as tentativas de identificar os seus representantes resultaram infrutíferas, o mesmo podendo dizer-se de outros autores como os poetas Corrêa d’Oliveira e Moreira das Neves que, aliás, publicaram os textos antologiados na Revista Carmelo Lusitano, da Ordem do Carmo. Às Servas da Santa Igreja pelo sermão do seu fundador, o servo de Deus, M. M. da Conceição Santos. Também a S. E. o Cardeal Cruz Policarpo que desde logo autorizou a inclusão do seu discurso - cremos que última peça antes da aprovação dos Decretos sobre as Virtudes e o Milagre, que abriram as portas à canonização de S. Nuno de Santa Maria (Santo Condestável Nuno Álvares Pereira).
Cumpre-nos ainda agradecer aos amigos Frades Carmelitas, pelas ajudas recebidas, salientando Fr. Manuel de Freitas e, sem dúvida, Fr. Francisco José Rodrigues, Vice-Postulador, por se ter disposto a honrar-nos com um Prefácio e pela mútua ajuda na tarefa da Comissão Histórica.
Por fim, especial agradecimento a S. E. o Cardeal D. José Saraiva Martins (agora Cardeal Bispo da Igreja Suburbicaria de Palestrina), obreiro maior da causa de S. Nuno, enquanto Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, que fez dessa causa um objectivo tão ansiado que, uma vez conseguida a aprovação dos dois Decretos em 3 de Julho de 2008, logo depois pediu a exoneração do cargo, fechando a sua actividade na Causa com chave de ouro para Portugal. A dever lhe ficamos, ainda, as generosas palavras com que se dignou prefaciar este nosso trabalho, cujo mérito pertence, não a nós, mas aos autores antologiados. Possa esta selecção de escritos motivar novas reflexões acerca de quem, há muito, goza do título de Santo.
J. Pinharanda Gomes
Membro da Comissão Histórica do Processo
da Causa da Canonização do Beato Nuno de Santa Maria
4.06.2009
São Ângelo de Jerusalém
Nasceu em Jerusalém filho de pais convertidos no século 12. Aos 18 anos ele entrou para um grupo de eremitas e formaram a primeira casa dos Carmelitas. Ele era um pregador muito bom e seus sermões eram respeitados e admirados pela sua eloquência e inteligência. Pela sua santidade e sabedoria foi enviado para evangelizar a Sicília e ele teve grande sucesso em converter grande numero de judeus sicilianos e conseguiu tambem grande ódio de vários outros especialmente perto de Palermo e Leocata. Um dia foi emboscado e morto por Berengarius, um homem que mantinha relações incestuosas com sua filha e havia sido denunciado por São Angelus.
Foi morto a facadas em 1220 em Leocata, Sicília. Sua relíquias foram transferidas para a Igreja Carmelita em Leocata e logo o seu túmulo passou a ser um local de peregrinação e vários milagres foram creditados a sua intercessão.
Na arte litúrgica da Igreja ele é representado por um carmelita com faca em suas costas, ou uma espada no seu peito , ou segurando um livro uma palma e três coroas. Outras vezes é representado com um anjo trazendo para ele três coroas e ainda como um carmelita com flores e rosas saindo de sua boca.
Sua festa é celebrada no dia 5 de maio.
S. Pedro Damião
São Pedro Damião
Nasceu em 1007 em Ravenna, Itália
Filho mais jovem de uma grande família. Ficou órfão e foi viver com um irmão, ele ensinado a trabalhar com rebanhos de suínos. Mais tarde outro irmão o levou para estudar em Fienza e Parma, onde foi professor. Vivia uma vida de estrita austeridade.
Sempre almoçava com algum pobre a sua mesa e fazia questão de servi-los.Certa vez foi visitado por dois monges de Fonte Avenlanna e eles contaram sobre seu modo de vida e ele, com 34 anos, foi para um monastério onde os irmãos viviam com eremitas em celas sem nada e dormindo sobre uma tábua. O regime era tão austero que a saúde de Pedro deteriorou. Mas ainda assim ele foi eleito Prior desta pequena comunidade e fundou mais cinco outras casas religiosas e ficou famoso pela sua atitude rígida contra a Simonia (venda de bens espirituais).
Foi convocado pelo Vaticano para fazer a paz entre as casas monásticas, o clero e os oficiais do governo, etc.
Foi indicado Bispo-Cardeal em Ostia pelo Papa Estevão IX.Tentou restaurar a disciplina entre os padres e religiosos que ficavam mais e mais mundanos. Ficou famoso por um severo e bravo sermão que deu em um mosteiro, quando assistiu uma cerimônia onde os monges estavam lendo, assentados, o Divino Ofício.
Notável escritor escreveu centenas de cartas, sermões, biografias e poesias, inclusive algumas no melhor latim da época. Escreveu vários trabalhos sobre o Purgatório, a Eucaristia e a Paixão de Cristo.
Tentou se retirar para uma ermida, mas o Papa o chamou para ser Legatário Papal.
Declarado Doutor da Igreja em 1828.
“Vamos transmitir fielmente para a posteridade o exemplo de virtude que nós recebemos de nossos antepassados” escreveu São Pedro Damião.
São Pedro Damião tinha especial devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e assim pedia a ela compaixão:
“ Ó querida advogada nossa.Vós tendes um coração tão terno que não podeis ver os infelizes sem vos compadecerdes. Ao mesmo tempo tendes tanta influencia junto a Deus ,que podeis salvar a todos aqueles que defendeis;não nos desprezeis, seja qual for a nossa miséria.Em vós depositamos todas as nossas esperanças.Mostrai–nos o vosso poder; pois, o Senhor vos fez tão poderosa ,para que estivésseis sempre pronta a fazer-nos bem e mostrar-nos a vossa misericórdia”.
Faleceu em 22 de fevereiro de 1072 de febre, em Ravenna, cercado de monges recitando o Divino Oficio.
Não foi formalmente canonizado, mas o seu culto praticamente aconteceu imediatamente apos sua morte e foi aprovado e estendido a toda a Igreja em 1823 pelo Papa Leão XII.
Na arte litúrgica da Igreja ele é representado como 1) um Cardeal segurando um livro nas mãos;ou 2) segurando uma Bula Papal para significar o seu legado
1.25.2009
Conversão de São Paulo, Apóstolo
Foram tão grandes os benefícios que a Igreja recebeu da poderosa mão de Deus pelo ministério de S. Paulo que, em sinal de agradecimento, quis celebrar particularmente a memória da conversão do glorioso Apóstolo.
Estabeleceu, pois, a Igreja uma festa para dar graças a Deus pela conversão deste Apóstolo, pela sua divina vocação e pela sua missão específica de pregar o Evangelho aos Gentios.
Saulo, que depois tomou o nome de Paulo, era judeu de nação, da tribo de Benjamim, e tinha nascido em Tarso, capital da Cilícia. Seu pai professava a seita farisaica, isto é, pertencia ao número daqueles judeus que faziam profissão de ser os mais exactos observadores da lei e de seguir a moral mais rígida e severa.
Pelo nascimento era ele cidadão romano, por ser um dos privilégios da cidade de Tarso, que era Município de Roma.
Os primeiros anos da infância passou-os em Tarso, estudando as ciências gregas, que aí eram ensinadas, do mesmo modo que em Alexandria e em Atenas.
Como Saulo fosse dotado de muito engenho e amor ao estudo, seus pais enviaram-no para Jerusalém, onde aprendeu na escola de Gamaliel, célebre doutor de lei, que o instruiu com esmero em tudo quanto pertencia à religião, costumes e cerimónias dos judeus.
Não foram infrutuosos os seus estudos; tornaram-no dentro de pouco tempo zelosíssimo na observância da lei, de procedimento irrepreensível, e um dos mais ardentes e obstinados defensores da seita dos fariseus.
Zelo tão intenso pelas cerimónias de seus pais não podia deixar de fazer dele um irreconciliável inimigo da religião cristã e como tal se declarou logo. Supõe-se que foi Saulo um dos judeus da Cilícia que se levantaram contra Estêvão e disputaram contra ele. Era olhado como furioso perseguidor dos cristãos, como inimigo jurado de Jesus Cristo.
A caminho de Damasco, com o objectivo de prender todos os cristãos que encontrasse, tudo muda: viu baixar uma luz, mais resplandecente que o próprio sol, a qual o cercou. Caindo em terra, Saulo ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” Então Saulo, mais atónito ainda, perguntou: “Quem sois, Senhor?” E a mesma voz respondeu: “Eu sou Jesus a quem tu persegues: duro é para ti recalcitrar contra o aguilhão.” Saulo replicou: “Senhor, que quereis que eu faça?” E o Senhor respondeu-lhe: “Levanta-te, entra na cidade e aí se te dirá o que convém fazer.”
Pela conversão, Saulo percebe que está do lado errado, porque Deus está do lado de Jesus e dos pequenos, dos crucificados, dos perseguidos...
E fica cego por três dias, o mesmo tempo que Jesus na escuridão do sepulcro: é o tempo para o nascimento do homem novo. A cegueira é a ocasião propícia do apagamento das suas seguranças para abrir-se ao Evangelho de Jesus, que é o Evangelho dos pobres, dos desprezados, contra todas as hipocrisias e os farisaísmos.
Quando diz “ a minha vida é Cristo”, Paulo não se refere a uma experiência puramente mística, mas quer afirmar que ele, pela graça do Espírito, não tem mais uma vida privada ou particular, mas a sua vida, como a de Cristo, é totalmente dedicada às comunidades e à evangelização. (Gl 2, 19-20; Fl 1,21)
Paulo é o grande missionário de abertura da Igreja aos “pagãos”: anunciar-lhes a salvação de Cristo e abrir-lhes as portas da Igreja é como “devolver” Deus aos excluídos.
É a mesma atitude que Jesus tinha com os excluídos no interior de Israel.
São Paulo
"Eu sou Jesus, a quem persegues. Mas levanta-te, entra na cidade e ser-te-á dito o que deves fazer" (At 9,5-6)
Na contemplação dos heróis do cristianismo, os Santos, chegamos hoje àquele que deu o nome à grande cidade de São Paulo, no Brasil. Foi ele que se transformou em exemplo vivo, para as horas difíceis e decisivas de nossa existência. Comemoramos pois, hoje, com solenidade, a conversão do apóstolo São Paulo. Ele próprio confessa, por diversas vezes, que foi perseguidor implacável das primeiras comunidades cristãs. Por causa disso atribuiu a si mesmo o título de "o menor entre os Apóstolos" e, ainda, de "indigno de ser chamado Apóstolo". Mas Deus, que conhecia a sua rectidão, tornou-o testemunha da morte de Santo Estevão, cena entre todas comovente, descrita nos Actos dos Apóstolos. A visão de Estevão apontando para os céus abertos e Filho do Homem, o Cristo, aí reinando, domina a vida toda do Apóstolo dos gentios, Paulo de Tarso.
Além das grandes e contínuas viagens apostólicas e das prisões e sofrimentos por que passou, devemos a este Santo, que se auto-denomina "servo de Cristo", a revelação da mensagem do Salvador, ou seja, as 14 Epístolas ou Cartas. Elas formam como que a Teologia do Novo Testamento, exposta por um Apóstolo. Jamais apareceu outro homem sobre a terra que fundamentasse tão bem a nossa fé em Cristo, presente na História, como também, presente em nossa própria existência. Foi São Paulo quem o fez de maneira insuperável.
Toda pessoa é orientada pela Providência de Deus. Mas, também, toda cidade recebe um destino e uma missão que deve cumprir, com o auxílio da graça e com a intercessão dos santos.
12.09.2008
Santo António do Deserto ou Antão do Egipto
17 de janeiro (251-356)
Antonio do Deserto nasceu na cidade de Conam, no coração do antigo Egito, em 251, e batizado com o nome de Antão. Era o primogênito de uma família cristã de camponeses abastados e tinha apenas uma irmã. Aos vinte anos, com a morte dos pais, herdou todos os bens e a irmã para cuidar. Mas, numa missa, foi tocado pela mensagem do Evangelho em que Cristo ensina a quem quer ser perfeito: "Vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e me segue". Foi exatamente o que ele fez. Distribuiu tudo o que tinha aos pobres, consagrou sua irmã ao estado de virgem cristã e se retirou para um deserto não muito longe de sua casa. Passou a viver na oração e na penitência, dedicado exclusivamente à Deus. Como, entretanto, não deixava de atender quem lhe pedia orientação e ajuda, começou a ser muito procurado. Por isto, decidiu se retirar ainda para mais longe, vivendo numa gruta abandonada, por dezoito anos. Assim surgiu Antonio do Deserto o único discípulo do santo mais singular da Igreja: São Paulo, o ermitão. Mas seus seguidores não o abandonavam. Aos cinqüenta e cinco anos, atendeu o pedido de seus discípulos, abandonando o isolamento do deserto. Com isto, nasceu uma forma curiosa de eremitas, os discípulos viviam solitários, cada um em sua cabana, mas todos em contato e sob a direção espiritual de Antonio. A fama de sua extraordinária experiência de vida santa no deserto, correu o mundo. Passou a ser o modelo do monge recluso e chamado, até hoje, de "pai dos monges cristãos". Antonio não deixou de ser procurado também pelo próprio clero, por magistrados e peregrinos que não abriam mão de seus conselhos e consolo. Até o imperador Constantino e seus filhos estiveram com ele. Mas, o corajoso Antonio esteve em Alexandria duas vezes: em 311 e 335. A primeira para animar e confortar os cristãos perseguidos por Diocleciano. E a segunda, para defender seu discípulo Atanásio, que era o bispo, e estava sendo perseguido e caluniado pelos arianos e para exortar os cristãos a se manterem fiéis à doutrina do Concílio de Nicéia de 325. Ele também profetizou sua morte, depois de uma última visão de Deus com seus santos, que ocorreu aos cento e cinco anos, em 17 de janeiro de 356, na cidade de Coltzum, Egito. Antonio do Deserto ou Antão do Egito, foi colocado no Livro dos Santos para ser cultuado no dia de sua morte. Santo Atanásio foi o discípulo e amigo que escreveu sua biografia, registrando tudo sobre o caráter, costumes, obras e pensamento do monge mais ilustre da Igreja Católica antiga. As suas relíquias são conservadas na igreja de Santo Antonio de Viennois, na França, onde os seus discípulos construíram um hospital e numerosas casas para abrigar os doentes abandonados. Mais tarde, se tornaram uma congregação e receberam o nome de "Ordem dos Hospedeiros Antonianos", que atravessou os séculos, vigorosa e prestigiada.
11.24.2008
S. ATANÁSIO DE ALEXANDRIA
Bispo, Padre e Doutor da Igreja, Santo(296 - 373)
coluna da Igreja
Um dos maiores santos da História, odiado virulentamente pelos maus, foi entretanto muito amado por sua luta intrépida em defesa da Fé
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"O século IV, a idade de ouro da literatura cristã, nos oferece em seus umbrais a figura gigantesca de Atanásio de Alexandria, o homem cujo gênio contribuiu para o engrandecimento da Igreja muito mais que a benevolência imperial de Constantino. Seu nome está indissoluvelmente unido ao triunfo do Símbolo de Nicéia"[1], que ainda hoje rezamos.
"Há nome mais ilustre que o de Santo Atanásio entre os seguidores da Palavra da verdade, que Jesus trouxe à terra? Não é este nome símbolo do valor indomável na defesa do depósito sagrado, da firmeza do herói face às mais terríveis provas da ciência, do gênio, da eloqüência, de tudo o que pode representar o ideal de santidade de um Pastor unido à doutrina do intérprete das coisas divinas? Atanásio viveu para o Filho de Deus; Sua causa foi a de Atanásio. Quem estava com Atanásio, estava com o Verbo eterno, e quem maldizia o Verbo eterno maldizia Atanásio"[2], comenta Dom Guéranger, o admirável autor eclesiástico do século XIX.
Arianismo: heresia devastadora
Deus nosso Senhor permitiu que houvesse várias heresias logo no início da Igreja. Com isso, ao refutá-las, os doutores foram explicitando a verdade católica a partir da Revelação e estabelecendo assim os fundamentos básicos sobre os quais se firmasse a verdadeira doutrina.
Uma das heresias que mais dano causou à Igreja, a partir do século III, foi o arianismo, devido ao apoio que encontrou da parte de muitos bispos e imperadores.
Na segunda metade do século III, Melécio, Bispo de Lycopolis, rompeu com São Pedro de Alexandria, provocando um cisma que dividiu o patriarcado de Alexandria. Melécio caiu em cisma (ou seja, provocou uma divisão) por ter discordado da indulgência do Santo ao receber de volta à Igreja cristãos arrependidos que, por fraqueza, haviam oferecido incenso aos ídolos para evitar a morte.
Ario, homem intrigante, habilidoso, persuasivo, vindo da Líbia, juntou-se aos cismáticos. Elevado ao sacerdócio pelo primeiro sucessor de São Pedro de Alexandria, ambicioso e buscando preeminência, Ario começou a pregar uma nova doutrina, que negava a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Santo Alexandre, novo Patriarca de Alexandria, condenou-a como herética.
Atanásio: sustentáculo anti-ariano
"Jamais, talvez, nenhum chefe de heresia possuiu em mais alto grau que Ario as qualidades próprias para esse maldito e funesto papel. Instruído nas letras e na filosofia dos gregos, dotado de uma rara fineza de dialética e de linguagem, ele conseguia dar ao erro o aspecto e o atrativo da verdade. Seu exterior ajudava a sedução. Seu orgulho se disfarçava sob uma simples vestimenta, sob um olhar modesto, recolhido, mortificado, que lhe dava um falso ar de santidade, e ao qual ele sabia aliar um trato gracioso e um tom doce e insinuante"[3]. Isso lhe abriu a porta dos grandes e poderosos do mundo. Eusébio de Cesaréia lhe concedeu asilo e o protegeu. Eusébio de Nicomédia tornou-se seu mais forte defensor. Por isso sua heresia estendeu-se séculos afora, provocando grande mal à Igreja.
O crescimento e o tumulto da nova heresia preocupou o Imperador Constantino, que enviou o mais venerado Prelado da época, Ósio de Córdoba, a Alexandria, para tentar fazer cessar a "epidemia". Este, estando com Santo Atanásio, reconheceu logo sua ortodoxia; bem como a má-fé e erro de Ario. Por isso, aconselhou o Imperador a convocar um concílio em Nicéia, para condenar a nova heresia. Neste foi composto o famoso Credo de Nicéia, que alguns heresiarcas assinaram constrangidos, e outros, recusando-se a fazê-lo, foram exilados.
Foi ali, na grande assembléia, que um pequeno grande homem, secretário de Santo Alexandre, se fez notar pelo fogo de suas palavras, eloqüência e amor à ortodoxia católica. Era ele Atanásio.
Moldador dos acontecimentos
"Atanásio era uma dessas raras personalidades que deriva incomparavelmente mais de seus próprios dons naturais de intelecto do que do fortuito da descendência ou dos que o rodeiam. Sua carreira quase personifica uma crise na história da Cristandade, e pode-se dizer dele que mais deu forma aos acontecimentos em que tomou parte do que foi moldado por eles"[4]. A esta descrição psicológica devemos acrescentar sua fé profunda e inabalável, a serviço da qual colocou suas qualidades naturais.
De estatura abaixo da média (pelo que foi objeto de debique por parte do apóstata Juliano), segundo seus biógrafos, era de compleição magra, mas forte e enérgico. Tinha uma inteligência aguda, rápida intuição, era bondoso, acolhedor, afável, agradável na conversação, mas alerta e afiado no debate.
A História não guardou o nome de seus pais. Pela alta formação intelectual que ele demonstra ainda jovem, julga-se que pertencia à classe mais elevada.
Jovem Patriarca de Alexandria
Ainda adolescente, foi notado e apreciado por Santo Alexandre, que o tomou sob sua proteção e, com o tempo, o fez seu secretário. No Concílio de Nicéia ainda não havia recebido a ordenação. Mas, cinco meses depois, Santo Alexandre, ao falecer, designou-o como seu sucessor na Sé de Alexandria. Atanásio tinha apenas trinta anos de idade.
Triste herança recebeu o jovem bispo. Durante seus primeiros anos de episcopado, os melecianos e arianos juntaram-se para tumultuar o povo e lançar o espírito de revolta, de que se alimentam as heresias. Pois o arianismo, se bem que tivesse um suposto fundamento religioso, era mais um partido político de agitadores, como muitos movimentos da esquerda católica de hoje em dia. Não havia calúnia, difamação e ardil que os arianos não inventassem contra Atanásio, para minar sua autoridade.
O Imperador Constantino, perdendo sua mãe Santa Helena, ficou sob a influência de sua irmã Constância, conquistada pela heresia. A pedido dela, fez voltar do exílio os hereges exilados em Nicéia, enquanto perseguia os católicos ortodoxos.
A astúcia dos santos
Apenas retornado do exílio, Eusébio de Nicomédia convoca um concílio em Cesaréia, sede do outro Eusébio ariano, para condenar Santo Atanásio. Este é intimado a comparecer em Tiro — para onde o concílio havia sido transferido — a fim de responder às acusações assacadas contra ele.
Fizeram entrar uma mulher de cabelos desgrenhados que, com altos gritos, acusou o Santo de ter dela abusado. Um dos padres de Atanásio, percebendo o jogo, levantou-se e foi até a impostora, exclamando: "Como! Então é a mim que imputas esse crime?!". Ela, que não conhecia Atanásio, replicou: "Sim, é a ti. Eu bem te reconheço". Houve uma gargalhada geral, e a miserável fugiu cheia de confusão.
Mas isso não desarmou os impostores. Mostrando uma mão ressequida, afirmaram pertencer a um tal Arsênio, que havia tempos desaparecera, e certamente fora esquartejado por Atanásio para efeitos de magia. Atanásio faz entrar na sala o próprio Arsênio, que descobrira na solidão do deserto. Mostrando-o, disse aos acusadores: "Vejam Arsênio, com suas duas mãos. Como o Criador só nos deu duas, que meus adversários expliquem de onde tiraram essa terceira". Os hereges, confundidos, provocaram verdadeiro tumulto e suspenderam a sessão.
Exílio causado por amor à ortodoxia
Com calúnias e outros artifícios, os hereges, que gozavam do prestígio do poder imperial, conseguiram que o Santo fosse exilado cinco vezes.
O primeiro exílio, em Treveris, durou cinco anos e meio, terminando em 337 quando, com a morte de Constantino, seu filho do mesmo nome chamou Atanásio para ocupar novamente sua Sé. No ano anterior, Ario, sentindo-se mal quando era levado em triunfo pelos seus partidários, teve que retirar-se a um lugar escuso, onde morreu com as entranhas nas mãos.
Entretanto, morto o heresiarca, não morreu a heresia, que em 340 conseguiu impor um bispo herege em Alexandria, tendo Atanásio que fugir para o exílio em Roma. Foi bem acolhido pelo Papa, que condenou o intruso.
Atanásio passou três anos em Roma, onde introduziu os monges do Oriente. Publicou na Cidade Eterna grandes obras contra os hereges arianos. Em 343 foi exilado para a Gália.
A década de 346 a 356 foi o período de ouro para Atanásio na Sé de Alexandria. Pôde dedicar-se inteiramente ao ministério episcopal, instruindo o clero e o povo, dedicando-se aos necessitados e favorecendo a vida monástica. Sobretudo fortaleceu na fé os católicos fiéis.
Em um novo concílio, em Milão, em 356, os arianos obtiveram que Santo Atanásio fosse mais uma vez exilado. Ele retirou-se então para o deserto do alto Egito, levando uma vida de anacoreta durante os seis anos seguintes, vivendo com os monges e dedicando-se a seus escritos.
Perseguição inclemente ao Santo
Com a subida de Juliano, o Apóstata, ao trono imperial, Atanásio pôde voltar, em 362, a Alexandria. Mas, pouco depois, ciumento do prestígio do Santo, o ímpio imperador mandou exilá-lo de novo. Não foi por muito tempo, pois Juliano faleceu no ano seguinte, depois de ter tentado restaurar no Império o paganismo. O novo imperador, Joviano, anulou o exílio de Atanásio, que voltou mais uma vez a Alexandria.
Favorecido com a boa vontade do novo Imperador, o patriarca pensava desta vez poder dedicar-se inteiramente às suas ovelhas. Joviano, entretanto, faleceu no ano seguinte, e Atanásio foi mais uma vez exilado. Conta-se que teve de refugiar-se durante quatro meses no túmulo de seu pai.
O povo de Alexandria não podia passar sem seu zeloso pastor. Recorreu nessa ocasião a Valente, irmão do Imperador ariano Valentiniano, e obteve que Atanásio pudesse voltar em paz à sua igreja.
Assim, depois de uma vida tão tumultuada e de tantos perigos, Santo Atanásio, como ressalta o Breviário Romano, "morreu em paz em seu leito", no dia 18 de janeiro de 373. Havia governado, com intervalos, durante 46 anos, a igreja (diocese) de Alexandria
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